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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

PORTA ABERTA

                                                                                                                               
CONTO

              Um quarto de casarão antigo. A luz do lampião da calçada iluminando-a por trás, feito santa no altar. Uma cama. E nela... Só ela! Ela, solitária e quieta. Imóvel, e branca como mármore. Há dez anos estava assim.
           Dez anos sem transar. Seu corpo todo estava carregado com uma energia bipolar. Ao mesmo tempo em que ansiava desesperadamente por um orgasmo tremia de pavor diante da possibilidade de ser tocada novamente por um homem. Na mão direita um botão de rosa vermelho encarnado. Na esquerda um escudo em riste. Há uma década permanecia assim. E agora sentia a adrenalina gelando suas veias. Seu cérebro em câmara lenta, captando cada detalhe cada ruído, cada sombra, cada objeto, arrastando o tempo, brecando a vida. Contando as batidas do coração acelerado.
           Levantou-se bruscamente da cama  num gesto de desafio. Escancarou a porta do quarto com violência. Voltou para a cama e acendeu um cigarro olhando fixamente para aquele vão aberto, com raiva, muito raiva!Largou o botão de rosa, empunhou uma lança. Puxou o escudo contra o peito. Da cama não conseguia avistar o corredor. Apenas a parede do outro lado. Sim, era assim mesmo que tinha de ser: imprevisível.
        Não. Melhor fechar essa porta, pensou. Isso é muito perigoso! Alguém pode invadir. O hotel está completamente silencioso. Não ouço passos, nem vozes... Largou sobre a cama o botão encarnado, a lança e o escudo. Correu para a porta e a fechou. Girou a chave três vezes, até o fim. Voltou para a cama. Acendeu outro cigarro. Sentia-se sufocar. O ar já estava saturado de fumaça. Acabou o cigarro.
     E então? Vai se acovardar agora?Pare de tremer, idiota!Destrava, vamos!Que diabos!Chega de viver sob o domínio do medo!Assim não dá mais! Resolva  de vez esta questão! Vai, coragem! Levante-se e abra aquela porta! - ordenou para si mesma.
        Voltou para a porta, girou a chave três vezes, lentamente, mas com firmeza. Abriu a porta como quem abre a tampa de um baú de tesouro de pirata. Emocionada, temerosa, cheia de expectativa, procurando por um objeto sagrado ou por uma joia extremamente valiosa.Aquela porta aberta  era a porta do resto dos seus dias. Queria assim e assim seria! Pronto! Fizera o mais difícil. Dera o primeiro passo.
         Desta vez ela sabia quem iria entrar por aquela porta. Era conhecido, era amigo, era doce, era gentil.
           Então se acalme, deixe a porta aberta e volte para sua cama, ordenou a si mesma. Tentou fumar mais um cigarro, mas engasgou. Apagou. Sua garganta deu um nó! Mal conseguia respirar. Não despregava o olho da porta.
            Aos poucos foi relaxando e adormeceu. Sonhou. Um sonho pavoroso. Um estupro. E era ela a estuprada. Surpreendida pelo invasor entrou em um estado de torpor. Sem reação! Mal se movia de medo de ser morta. Obedecia. Obedecia. Obedecia... Até que desmaiou.
              Acordou com o ruído da porta. Saltou  na cama e murmurou: quem é? Quem é você?
              Ele entrou sorrindo, ao mesmo tempo hesitante e excitado. Aproximou-se vagarosamente, como se estivesse entrando na jaula de uma fera. Não disse palavra. Pegou delicadamente suas mãos. Depois pronunciou seu nome como quem pergunta, mas já sabe a resposta.
             Ela fez que sim com a cabeça. Olhou para ele e não viu perigo em seus olhos. Só carinho.  Uma sensação boa espalhou-se pelo seu corpo todo. Um desejo louco e sadio. Entregou se ao abraço suave, ao beijo longo, à paixão que a inundava. Simplesmente entregou-se. Estava viva novamente.

 




TEXTO PROTEGIDO POR DIREITOS AUTORAIS
FAVOR CITAR SEMPRE A AUTORIA
RITA VELOSA

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

OVELHA NEGRA



Como posso dizer: vai!
Se o que eu mais quero dizer é: vem!
Como posso dizer: lobo!
Se o que eu mais quero dizer é: santo!
Como posso comer, beber, dormir,
Se só o que eu quero é você?

Deus! Por que fiz isso comigo?
Por que fui te desafiar?

Como posso esquecer a voz do lobo,
Seu sorriso, seu jeito hesitante?
Como posso esquecer o bem que me fez?
Como posso esquecer como fui feliz?

Lobo, você é paixão.
Santo: você é amor.

E eu agora sou menina,
Adolescente perdida,
Ovelha negra,
Alimento de lobo,
Prece de santo,
No fogo do paraíso,
Na solidão do inferno.

Deus! Por que fiz isso comigo?
Por que fui te desafiar?

Sou ovelha negra.
Fujo de meu pastor.
Procuro pelo santo,
Torcendo para o lobo me encontrar.

 TEXTO DE RITA VELOSA
PROTEGIDO POR DIREITOS AUTORAIS
FAVOR CITAR SEMPRE A AUTORIA